

Brexit: a Irlanda apresenta-se ao mundo
TRADUZIDO POR PATRÍCIA FERREIRA E CATARINA ARANTES GOMES DA SILVA
Desde Março que o Brexit obriga as diversas regiões britânicas a repensar as suas relações com a Inglaterra e a Europa. A Irlanda tenta fazer-se ouvir dos dois lados do Atlântico, apesar das dificuldades históricas, geográficas e económicas.
Para a Irlanda, o mês de Março foi verdadeiramente carregado. Além das celebrações do dia de São Patrício, as perspetivas económicas também agitaram o país. O parlamento britânico aprovou o referendo do Brexit, marcando o fim de um periodo de suspense e o começo de uma competição comercial. Os países europeus tentam chamar a atenção dos bancos e das empresas internacionais que consideram sair do Reino Unido. A Irlanda tenta desistir. O risco de não ter fronteira terrestre com a Europa cria uma forte incerteza. A adesão ao mercado único poderia, por exemplo, tornar-se inútil.
Dublin coloca as suas esperanças num grande número de empresas europeias, mas a ameaça da deslocalização persiste. A seguradora americana A.I.G. vai mover 50% dos seus activos para o Luxemburgo, devido a razões práticas como o acesso aos clientes. Eoghan Murphy, representante do quarteirão financeiro de Dublin, acusou os lobbyistas de certos países europeus de concorrer injustamente contra os de países desfavorecidos. A Irlanda gostaria de fazer de Dublin a alternativa ao centro financeiro londrino, baseando-se na utilização oficial da língua inglesa. Mas deve para este fim contornar problemas práticos. Pesando os prós e os contras, em Outubro passado o The Guardian avançou como principais entraves o distanciamento do continente e a falta de espaço.
Incertezas económicas
Dublin continua a reflectir seriamente, suscitando o entusiasmo de alguns. Paul Rickards, estudante irlandês, disse ao Journal International. “Um membro da minha família trabaçha para Monaghan Mushrooms. É uma empresa que vende cogumelos e que poderá ser arruinada pelo Brexit. Por isso tenho medo pela situação financeira da minha família”. Ele acrescenta: “Espero que o Brexit leve ao aumento de postos de trabalho para a nossa geração, mesmo que fique triste pelos meus amigos britânicos”. Paul pensa simplesmente no seu futuro. A incerteza, contudo, não permite depender de uma deslocação natural do sector financeiro londrino. Os políticos, esses, vêem mais longe.
O Taoiseach Enda Kenny está consciente da vulnerabilidade do seu país. Desesperado ou não, ele não hesita em consruir relações mais políticas. Passou a semana de 17 de Março nos Estados Unidos, assistindo, entre outros, à celebração de São Patrício em Nova Iorque. Durante a sua visita a Washington, Kenny jogou a cartada sentimental com o presidente Donald Trump. Evocando os seus medos em relação às repercussões do Brexit, ele encorajou o presidente Trump a suavizar a sua repressão da imigração ilegal. Nos Estados Unidos, 50 000 imigrantes sem documentação veem da Irlanda. O presidente americano acabou por exprimir o seu amor pela Irlanda e o seu reconhecimento do trabalho “árduo” dos Irlandeses nos Estados Unidos. O Taoiseach goza da parcialidade social e étnica da nova administração americana, que estigmatiza fortemente as comunidades hispânicas. Ele espera assim proteger a sua economia nacional.
Pronto para enfrentar o desafio?
A obtenção do apoio moral da Casa Branca é também uma manobra política. Trata-se provavelmente de uma antecipação da demissão do líder irlandês algumas semanas mais tarde. Uma demissão devido às divisões importantes no país.
A Irlanda já tinha feito frente a uma incerteza económica no fim do século passado, da qual escapou. O seu comércio, em grande parte agrário, dependia exclusivamente do Reino Unido. Esses são tempos já idos. Já independente, a Irlanda deve agora testar a sua competitividade com o Brexit. Os Irlandeses, esses, temem um periodo de regressão económica.
Foto de capa: Taoiseach Enda Kenny. 16 de Stembro de 2016. Crédito Andrej Klizan.
Etudiant britannique de l’Université de Birmingham, je suis devenu membre du Journal International pendant mon année à l’étranger à Lyon 2016-2017. Je m’intéresse à une variété de sujets politiques, sociaux et culturels des quatre coins du monde, mais je me focalise sur les affaires de mon pays natal.